Recentemente ao
ler um artigo de Richard Dawkins, intitulado, “A inutilidade da Teologia”,
conclui algo que vinha pensando há certo tempo; o quanto a Teologia moderna tem
sido inútil da tarefa de mostrar sua utilidade ao mundo.
Dawkins inicia
seu artigo criticando um editorial do Jornal britânico Independent, que pedia a
reconciliação entre ciência e teologia, levando em consideração todos os feitos
ditos puramente científicos, e a ausência de tais feitos por parte da Teologia.
Concordo com o
Teólogo Francis Schaeffer em seu livro “A morte da razão”, onde ele defende a
idéia de que a ciência moderna está morrendo justamente por estar abrindo mão
da sua origem divinamente inspirada e transformando-se cada vez mais em estatística
e empirismo puro. Interessante o fato que boa parte das criações e avanços citados
por Dawkins como feitos da ciência, surgiram de pesquisadores cristãos, como
Galileu, Roger Bacon, Isaac Newton, Michael Faraday, dentre outros...
Não culpo
Dawkins por pensar como pensa, culpo a ineficiência da Teologia moderna em
transmitir conhecimentos palpáveis ao mundo, sem afirmações mágicas, e
abracadabras.
Conhecendo algumas
obras de Dawkins, afirmo que boa parte dos seus ataques à teologia são fruto de
sua falta de conhecimento nessa área, ou conhecimento fragmentado de parte
dela, sendo que boa parte desse conhecimento teológico parece ter vindo das idéias
de alguns teólogos fundamentalistas, que insistem em atribuir à bíblia
características que ela não tem tais como sistemática científica ou
arqueológica por exemplo.
Foi
esse tipo de fundamentalismo que quase matou Galileu, pois suas descobertas não
condiziam com a exatidão científica que acreditam possuir a Bíblia, sendo a mais provocante delas afirmar que o Sol não
gira em torno da terra como dizia a tradição da época.
Sem dúvida a
Bíblia Sagrada hoje é uma das maiores fontes de discussões entre vertentes
religiosas e científicas, alguns cientistas modernos tentam incessantemente mostrar
a inutilidade da religião, como esse artigo de Dawkins; outros tentam provar
que fatos descritos não condizem com a realidade científica, alguns
fundamentalistas religiosos por outro lado insistem em afirmar a ciência dos
fatos bíblicos como se a exatidão científica fosse o objetivo das sagradas
escrituras.
È notável que
ciência tem sua importância no entendimento humano das coisas, aliás a
verdadeira ciência primitiva surgiu do pressuposto que Deus criou o homem
inteligente, portanto capaz de estudar o mundo que o cerca.
O próprio
Galileu tentou expressar a veracidade bíblica dizendo ”Deus escreveu dois
livros A Bíblia e o livro do Universo”, os dois são verdadeiros, mas em
linguagens diferentes. È claro que Deus não escreveu literalmente um livro do
Universo, mas isso mostra que o Universo não está confinado em poucas páginas.
Gostaria de
propor um exercício para mostrar a futilidade dessa briga de razão, fazendo uma
comparação do Universo com um aparelho eletrodoméstico.
Imagine que o
Universo criado por Deus é como um televisor, e a Bíblia como o manual de usuário desse televisor. É
possível entender o funcionamento do televisor de forma técnica apenas lendo o manual de usuário? Certamente pouco.
Mas o manual de usuário ensina como lidar com
o televisor, possui dicas de conservação e limpeza, dentre outras facilidades.
Por outro lado imagine que a ciência moderna é como o manual técnico do televisor. È possível conhecer as facilidades do
televisor, dicas de uso entre outras, apenas pelo manual técnico? Não.
Mas o manual técnico ensina os princípios de
funcionamento, o funcionamento do CRT “tubo” capaz de gerar pontos coloridos
que nosso cérebro entende como imagens, manutenção dentre outros detalhes
técnicos adicionais.
Tanto o manual de usuário como o manual técnico, falam sobre o mesmo televisor,
porém cada um sobre um prisma diferente, assim como a Teologia e a Ciência. A Teologia
não pode negar a Ciência, mas não precisa explicá-la, assim como a verdadeira Ciência
não pode negar a Deus apesar de ser incapaz de explicá-lo.
Se olhássemos
para os manuais do televisor com os mesmos olhos céticos dos fundamentalistas
religiosos e dos cientistas ateus, também acharíamos divergências entre o manual de usuário e o manual técnico do televisor, afirmando
que um ou outro é mentiroso, observe um exemplo, de possível ponto de crise:
O manual de usuário explica que quando se
liga o televisor aparece um conjunto de imagens, já o manual técnico diz que ao ser ligado o Televisor produz um feixe de
elétrons que ilumina pequenos pontos no fundo do tubo, Será que algum dos dois
manuais está mentindo ou estão dizendo a mesma coisa em linguagem diferente?
Essa deve ser a
forma de encarar fé e ciência, não como combatentes, mas como parte de um
processo de construção de conhecimentos desse misterioso e maravilhoso universo
que nos cerca.
Concordo que
atualmente a Teologia pouco tem feito na sociedade, porém questionar a
existência da Teologia como campo do conhecimento, como faz Dawkins na frase
final de seu artigo, é no mínimo tão ingênuo como um simples cidadão do campo
sem formação nem conhecimento político questionar a utilidade da própria política,
já que na sua visão popular todo político é corrupto e não produz nada de bom.
Se a Teologia
produziu algo de útil? Analise a história dos grandes cientistas do passado e
descubra o papel inspirativo da Teologia em suas vidas.
Respeito a
formação de Dawkins dentro da sua área, principalmente biológica, mas para um
intelectual desse porte, uma crítica à determinada área do conhecimento deveria
no mínimo vir acompanhada de elementos mais completos e fundamentados e não
apenas de trivialidades que até mesmo os teólogos concordam.